Da intimidade


Desejo os outros mas não lhes conheço as margens.
Sem margens nunca seremos.
Apenas pequenos pontos míopes embutidos na estrada.
A estrada estica-nos. Amplia-nos em movimento.
Contudo, 
precisamos sempre dos oceanos para delimitar os continentes.


Usamos nomes mas reconhecemo-nos pelo aroma.
No momento da aterragem preferimos a pulsão dos genes à das ideias,
Ainda que não possamos levantar voo sem o encantamento das palavras.
Somos a contradição que alimenta as gargalhadas roucas do universo.

Cultivo a teimosia. Passeio segura na orla dos precipícios.
Gosto das feridas lentas e das histórias que escarificam.
Das emoções que borbulham a nossa imagem no espelho.
A intimidade só começa quando nos sentimos sujos.
O amor é um exercício contínuo de repulsa.


Não interessa se batemos o pé. 
É impossível alterar as regras do jogo. 
Puxar a corda nunca encurtará a distância.
Vamos sempre necessitar de contornos para poder borrá-los.



Da intimidade by Denise Pereira is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.

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