Porque é que eu não tenho amor à tua mesa?


Só tu sabes que o desejo é mais do que uma ferida.


Excretas os velhos arrependimentos na minha mesa.
Secas os meus lábios com palavras garantidas.
Saúdas-me com cortesias pré-estabelecidas.
Pré-fabricadas. Pré-mumificadas.
Danças com o sopro dos meus membros despidos.
Levito em transe qual marioneta inquieta.


E eu pergunto:
Porque é que eu não tenho amor à tua mesa?
Porque é que eu não sei rimar sem sofrer?


As tuas mãos - espigões cegos que me acariciam,
esfoliam-me os predicados, as somas e a ortografia.
 

E tu perguntas:
Porque é que eu não tenho amor à minha mesa?

Porque é que apenas colho estes frutos de ilusão?


Só eu sei que a dor são os restos que se guardam para comer no escuro.




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