Vírgula

I.

Os pés dançam em tapetes distintos.
Os movimentos de agora imitam o longo eco de gargalhadas proibidas.


Sustenho a respiração e estico as raízes à janela.
Quando o sol baixa, uma onda de culpa cintila nos telhados.
As vozes nada dizem quando embaladas pela distância.
As ideias instalam-se nos espaços abandonados e conjuram uma emboscada.


O burburinho fecundo abandonou por completo este quarto. Quando me deito acordo a ilusão de um propósito ou de uma terapêutica.
O casulo que me foi forçado devia iluminar o caminho para casa. Em vez disso substituí a submissão por inércia e a rede multiplica-se.

II. 

Pezinhos de lã para não acordar as memórias.
Arranho as teclas e um espasmo bate-me aqui dentro.
Uma abrupta avalanche de faces sufoca a minha tentativa.
A cada degrau uma mordidela impede-me de apreciar a vista.


Sento-me novamente.
Agora sei que vamos juntas e juntas estaremos enquanto os sons forem enigmas.
Tapamos os pés e continuamos a estudar.
Quando te agarrei pela primeira vez soube que te esquecera.
Dizes-me que isto é uma fisioterapia da alma?
Sim, não tinha medula antes de cantares para mim.
Não me interessa qual é a forma geométrica do universo, nem se isto é um círculo ou um hexágono.
Gosto desta sequência mesmo quando está escuro. 


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