Fio de Ariadne


Lugares onde não regressarei.
Paisagens afectivas agora e para sempre interditas. 

Materializam-se em cumes de montanhas,
e no imaculado betão dos separadores de auto-estrada.


Palavras que não ouvirei.
Futuros docemente engendrados roubados à perfeição dos mitos.

Recordo-os com o vigor das sirenes de ambulância.

Com a impetuosidade dos sinais vitais.



Expressões faciais de que abdicarei.  
Comidas que não deglutirei.  
Fotos que arquivarei.
Vozes que jamais usarei.
Sorrisos que esquecerei. 
Movimentos biológicos que estranharei.
Aromas de que me privarei.
Canções que censurarei.


Listo tudo o que não se repetirá e coloco debaixo da almofada.  
Para alguns esta é uma técnica de autodefesa. 
Eu prefiro chamar-lhe meu fio de Ariadne.




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