Praia

I


Serpenteia em mim o rastilho
de uma luz láctea. Esbatida.
Confunde as arestas do tempo,
e evoca o cenário de sempre.
A praia. Eternamente a praia.
Onde me despojam,
liberta de coordenadas ou amarras vãs.

II

O cinzento do céu,
imprime vida nas formas.
Oferece-lhes a bruteza cortada dos mármores.
Enquanto a verdade nos desce ao peito.

Trémulos são os sonhos que nos roubam
as ondas.
Encrispados os nossos desejos de regresso.

III

Das mãos pálidas e roxas
tombam castelos de areia gélida.
Torrentes de paz e de medo
que me desviam do mundo.
O mar está calmo,
e todo o cinzento nos dissolve,
devora, consome, exalta.

Há histórias que se recontam
embutidas nos rochedos.
Murmúrios longínquos
que aprendi a esquecer.
E se todo esse segredo
pernoitasse sem tréguas
neste cenário repetido,
e me empurrasse zumbindo para o abismo?

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