Mão Morta, Mão Morta, vai chorar aquela porta



Mãos trémulas,
tacteando as cores cinzentas que as embalam com cruéis palavras.

Pertencem a uma criança que avança sozinha na estrada,
e abraça com força um boneco, ou será um escudo?
Ausente aguarda os estilhaços da prometida explosão.
Enquanto regam os vossos corpos com gasolina,
e criam distância fechando portas,
abrindo nomes e cartas,
as mãos apertam-se e desejam ingenuamente
o silêncio. Mas o oxigénio insiste em alojar-se
desobediente, naqueles pulmões sem raíz.

Esta é uma casa sem paredes. O medo espreita mesmo quando se abafa o corpo na escuridão protectora dos lençois.
Deixamos os vinis a girar,
e escondemos as mágoas nas vozes felizes das crianças.

O amor desconhece o vosso nome.
E essa ausência corrói os frágeis corpos,
deformando-os como arbustos, arrastados pelo hálito do vento,
naquelas longas noites de inverno em que um abraço ameaçava soltar-se num grito.

As dores possuem identidade e espraiam-se em afluentes.
Os órgãos resistem à pressão adoptando diferentes vozes.
Umas expurgam o excesso de sinceridade na humilhação.
Outras tecem poderosas rezas,
que se infiltram sem misericórdia e os abatem ainda em vida.
Conjura-se um duplo. Uma sombra vigilante.
Picadas profundas que ardem como cortes de papel, 
encarceram e recriminam,
como conversas bélicas em que ficamos órfãos,
ou lengalengas hipnotizantes que transformam os carrascos em vítimas.


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