Meritocracia


Antecipo a escalada. O vento serpenteia lá fora e conforta-me saber que alguém virá por mim.
Aqui nunca me sinto sozinho, nem ameaçado pela inquietante monotonia que nos agita por dentro.
Por vezes tacteiam-se lágrimas inesperadas que se oprimem com uma medalha. Seca-nos as dores e amplifica-nos o desejo de progresso. Uma vida guiada pelo sentido de dever é a maior dádiva que se pode alcançar e oferecer.
- Por acaso sabes que não somos Plantas? – Disse-lhe eu uma vez - Que não somos meros receptáculos passivos com uma ampla esperança de vida?
Ele não disse nada. O que poderia dizer?
O vento recorda-me a corrida. A minha e a tua, entrelaçadas pelo desejo de reconhecimento que nos liga a todos. A todos.
- Mas não vês que assim não nos reconhecemos a nós próprios? – Respondeu ele passadas umas horas. Ainda agora não compreendo o que lhe passou pela cabeça para me responder aquilo. Vejo-me todos os dias no espelho e reconheço os sons entéricos do meu corpo. Essa não é nem nunca foi a questão. A questão é que a corrida nunca pára e é isso que nos sustenta. Ele nunca vai entender que é o excesso de meditação que o entorpece e desgasta. Antes fosse uma planta...

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