Estrangeirismos




Ainda hoje te recordo quando o silêncio se exibe.
Nos momentos calados adornados pelo embaraço. 

Sei que esgotámos os pretextos.
Mentimos muito para além do que é aceitável.
Fizemos votos eternos de nunca sermos unos.
Prometendo generosidade e sarcasmo até que a morte nos separe.

Quando nos conhecemos a água caía sem artifícios.
A timidez unia-nos como cúmplices. 
Plantávamos árvores enquanto evitámos enraizar-nos.

Os teus olhos devolviam-me o mar da minha infância.
As longas manhãs em que a fé superava a angústia.

Havia em ti uma promessa que eu não consegui ler.
Tão evidente na hermenêutica das palavras emudecidas.
Na forma como tecíamos esperança nos momentos de despedida.

Hoje regressas na certeza do impossível.
Dóis-me em cada dobra de correspondência selada. 
Devolves-me o nome no arrepio de um idioma intransponível,
enquanto te alistas a esse séquito de espécies extintas,
amores latinizados no sistema natural da minha memória.



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Proserpine de Dante Gabriel Rossetti pode ser espreitada nesta Janela

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