A acutilância da ironia

A sua obrigação [a do professor] e a missão que o estado lhe confia consiste então em domar e exterminar as forças brutas e ânsias da natureza da criança, fazendo brotar em seu lugar ideais calmos, moderados e oficialmente reconhecidos. Que teria sido daqueles que agora são cidadãos perfeitamente satisfeitos e funcionários diligentes se não fossem os esforços da escola? Seriam hoje desses inovadores tempestuosos e inconstantes ou sonhadores inúteis! [...] O ser humano, tal como a natureza o concebia, é algo imprevisível, opaco, inimigo. É uma torrente que não possui quaisquer trilhos nem obedece a qualquer ordem. E tal como a selva, que tem de ser desbastada, limpa e delimitada, também a escola deve domar o ser humano no seu estado natural, impor regras, fixar limites; cabe a esta instituição fazer dele um membro útil da sociedade segundo regras estabelecidas pela autoridade, despertando nele as qualidades que só mais tarde serão aperfeiçoadas e rematadas ao tomar contacto com a disciplina da caserna.

                                                                                                       Hermann Hess, in Hans (1906)

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