Regurgitação

Há momentos na vida em que não somos mais do que simples sacos de papel em que os outros vomitam as suas frustrações e vazios. E de boca em boca vamos passando esse saco pestilento e envelhecido, fazendo-o atravessar gerações e gerações, apurando os requintes de malvadez. É a sacralização da vingança, que assim se converte em dogma do inconsciente colectivo, ou no "único" trajecto possível da evolução humana.

Este pequeno tesouro abateu-se sobre mim enquanto tomava o pequeno almoço. E ali, naquele último reduto do quotidiano moderno, consciencializei-me desta trágica verdade: Durante décadas eu fui o saco onde muitas pessoas jorraram o seu enjoo de estar vivas, ou aquele suco biliar amargo que nos rasga as entranhas e corroí os sonhos. É claro que hoje não foi um dia bom. 


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