Deriva Continental


O magma
que pulsa vingativo 
nos meus músculos,
invade-me e chora.
As coisas que não vi,
tudo o que senti como meu
injectaste-o meticulosamente no meu sonho,
e cedo me deste um nome,
um rosto, um corpo, uma promessa.


Esta ligação intravenosa
que pende sobre nós,
inevitável e inodora,
desintegra-nos e define-nos.
Simbiose ou comunicação?
Encontro ou punição?
De que me serve a taxonomia
neste duelo entre a tua vida e a minha fantasia?


Retalho a retalho
remendo este cadáver que ainda respira.
Conto as palavras.
Deixo-as cair gota a gota 
na sua boca moribunda.
E com este passo de magia
insuflo vagarosamente em mim,
um coro calibrado de sopros,
uma onírica sinfonia,
uma celebração às funestas ligações
que vivem em mim desde o primeiro dia.

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